As aulas das crianças atualmente estão sendo realizadas virtualmente por meio digital. Ainda há muito o que aprender e melhorar neste processo, mas estamos no caminho certo? Como será o futuro?

Um dia acordamos inseridos em outra realidade. De repente, as aulas escolares passaram da sala de aula direto para dentro das casas das pessoas. Pais e avós se desdobrando para disponibilizarem uma infraestrutura minimamente aceitável para transmissão de aulas virtuais em suas casas, rotinas sendo transformadas e, mais do que isso, todos com disposição para estar ao lado das crianças e ajudá-las na transição da sala de aula para casa.
Há pelo menos 3 meses estamos trabalhando em um modelo que até então era pouco utilizado pelas escolas, mas que de repente, a exceção virou a prática, o padrão. Dividir a atenção do trabalho e afazeres do lar com as aulas das crianças tem sido um grande desafio para pais e professores.
Tenho recebido alguns feedbacks das minhas crianças sobre este processo e gostaria de abordar pontos comuns que foram levantados com seus colegas inclusive:
- Falta de contato pessoal com os amigos e professores: a falta do convívio escolar, que engloba os colegas, professores e funcionários da escola tem sido sentida pelas crianças, afinal a rotina foi quebrada abruptamente, gerando um sentimento de perda que precisa ser trabalhado pelos pais.
- Estamos aprendendo bem, mas não é a mesma coisa: a ausência do ambiente da escola, o cheiro da sala de aula, do lugar comum, do recreio, até a forma de fazer perguntas ao professor mudou. Atualmente tirar dúvidas com o colega ao lado ficou diferente, todo mundo está ao lado, a apenas um click. E as aulas práticas e lúdicas? E as feiras, eventos e festas?
- Prestar mais atenção na aula e fazer os deveres de casa : O modelo novo traz uma outra dificuldade, a do foco das crianças. Algumas conseguem focar bem no modelo de aulas virtuais e outras não conseguem se desligar das distrações da casa e focar, causando frustração e a perda da matéria, exigindo um esforço adicional dos pais e avós que da noite para o dia viraram assistentes, ou até professores de fato complementando os estudos.
- Uso das suas próprias coisas em sua casa: reconhecem que o uso das suas próprias coisas, com individualidade, é até bacana. Mas cresceram aprendendo a compartilhar, logo, a maioria prefere compartilhar o espaço com os colegas do que ficarem nos seus quartos “sozinhos”. Até o fato de ter que dar aquele pedaço do lanche para o colega está fazendo falta.
- Problemas técnicos de internet afetando bastante a aula: nosso país possui uma rede de telecomunicações ainda frágil. Ter a todos em casa trabalhando e estudando fez com que as redes ficassem sobrecarregadas, sem contar que nem todos possuem uma rede em casa de qualidade, precisando fazer investimentos adicionais. Isto vem causando interrupções que deixam os alunos irritados com: travamentos, congelamentos e afins. Resultado da falta de estrutura e de planejamento que não houve tempo para executar.
- Não se comunicar com o(a) professor(a) facilmente se tiverem dúvidas: na sala de aula, teve dúvida, levanta a mão e pergunta. Na aula virtual este processo existe, mas ainda é complicado, afinal o professor precisa gerir prioridades à distância, procurar atender a todos de forma justa e de certo modo não foram treinados para atuar nesta situação com antecedência. Sabe aquele aluno que para aprender melhor precisa sentar-se na primeira cadeira da fila? Pois é, ele(a) não poderá mais estar ali às vistas minuciosas do(a) professor(a), onde com um pequeno sinal corporal já o(a) deixava saber que precisava de ajuda, como ele(a) será capaz de reconhecer virtualmente este comportamento? Como ele se sentirá confortável de levantar a mãozinha virtual toda a hora para perguntar?
Mas, como será o futuro? Bem, estamos no meio da onda de aprendizado e maturação deste processo de e-Learning que nos foi inserido a forceps. Até o final do ano estaremos melhor estruturados e melhor engajados, o que fará com que a qualidade evolua e novos investimentos surjam na área de aplicativos, de rede e de equipamentos computacionais. Ou seja, no melhor cenário, há muitas questões a serem resolvidas ainda.
No cenário dos menos favorecidos, a situação é dramática. Os desafios em levar educação online para a população mais carente, são enormes. Sem recursos para a infraestrutura básica para suportar as aulas em casa, alunos e professores sofrem nesta nova realidade. Imagine a situação da criança que precisa pegar o celular da mãe e ir a um estabelecimento comercial acessar a internet privada do local para assistir à aula? Mesmo com todas as dificuldades inerentes ao processo, os alunos das escolas particulares estão melhor preparados. O abismo entre estas duas realidades só será transposto com articulação forte entre a sociedade civil, empresas e o governo.
As aulas voltarão à normalidade da sala de aula um dia, mas claro, com as devidas proteções respeitando distanciamento, uso de máscaras e tudo o mais. Contudo, certamente, pelo menos por um tempo, parte das aulas ainda será administradas por meio digital. Até aí, tudo dentro do esperado. Mas o que deve realmente se alterar é o comportamento das crianças para com o uso do computador em prol dos seus estudos, fazendo mais treinamentos à distância, em qualquer lugar do mundo, nas mais diversas disciplinas de interesse. Aulas de língua, programação, música, entre outras matérias, as quais provavelmente permanecerão ministradas por meios digitais. Ou seja, o “Edge Computing” se tornará um aliado nos estudos das crianças, onde a educação deverá ser democratizada e melhor globalizada.
Num futuro não tão distante, haverá a inserção de tecnologias que potencializam a experiência do usuário nas salas de aula, experiências estas que atualmente são mais utilizadas nos ambientes empresariais e dos videogames. O uso de AR (Augmented Reality) e VR (Virtual Reality) nas salas de aula, é inevitável. Estas tecnologias servirão para virtualmente ilustrar ambientes, lugares históricos e geográficos, situações históricas, além de poderem usar aplicações para criar protótipos virtuais antes de se produzir os reais, reduzindo custos com perdas de materiais.
Imagine criar uma maquete virtual para a feira de ciências e em seguida construir uma física idêntica prestando atenção em cada mínimo detalhe? E se pudéssemos estar em nossas casas, e criar um ambiente de sala de aula tradicional utilizando AR/VR? E se as crianças pudessem conhecer outra cultura, visitar museus viajando e voltando sem sair do lugar em minutos? Entende como podemos fazer uso das tecnologias para suprir boa parte dos pontos levantados acima e que hoje são desconfortos de nossas crianças?
A democratização da Internet, levando para todos a infraestrutura básica, é uma ação urgente para o poder público e privado. É evidente que não haverá educação de qualidade sem o mínimo de infraestrutura digital básica para isto.
O Futuro é logo ali e a pandemia pode ter sido importante para este empurrão na melhoria do uso das tecnologias para a educação dos nossos filhos e netos. Então que venha a era digital na sala de aula, definitivamente para ficar!