Gestores se deparam comumente com situações de terem equipes novas para gerir, começarem um novo capítulo de carreira dentro ou fora de suas empresas atuais, transformar e organizar uma nova área, contratar pessoas para crescer o negócio, treinar a turma e executar planos com urgência. As vezes tudo isso numa tacada só, com o ingrediente principal de manter as pessoas motivadas num cenário complexo de mercado e transformação tecnológica. E agora?

Eu particularmente já passei por situações assim antes. Já geri um time na América Latina, cada qual no seu país, um outro time regional, cada qual em seu estado. Mas até pouco tempo atrás, há 10 meses, era só pegar um carro ou avião e estávamos juntos no cliente, numa reunião de recursos humanos, de discussão de negócios, hoje não mais. Hoje, vivemos um momento em que é comum gestores ingressarem nas empresas, ou trocarem de área, sem conhecerem pessoalmente seus liderados, desconhecendo os processos e sendo desafiados a colocar tudo isto em prática. Tive a sorte de entrar para uma organização nova com uma cultura de colaboração absurda, o que facilitou bastante na adaptação e na construção do plano, mas nem sempre este modelo está disponível.
Creio que a maior dificuldade para nós, Brasileiros, acostumados a enfrentar os desafios do dia-a-dia através da relação interpessoal presencial, com olho no olho, tenha sido a distância entre as pessoas. Acabaram as reuniões presenciais de uma hora em média e recebemos uma enxurrada de reuniões de 30 minutos que parecem produtivas à primeira vista, mas que muitas poderiam ser trocadas por simples e-mails. O modelo f2f, onde se constrói com maior facilidade a confiança, trazendo objetividade para processos negociais, está paralisado por razões óbvias oriundas da pandemia. Hoje se lidera através de intermináveis formas de contato. As empresas ainda pouco o dominam e tem certa dificuldade em gerir informações que trafegam de diferentes fontes e formas criando lacunas de gestão à segurança da informação . Praticamente se extinguiram as reuniões presenciais de time, de gestão, aquelas com café da manhã ou da tarde, onde discutíamos os negócios e o futuro da área e da empresa. Bem, ainda as realizamos pelo computador, mas definitivamente não é igual. Acabaram os almoços com clientes e com o time, sem falar dos happy hours para dar aquela arejada na cabeça.
Eu sei, tudo isso já discutimos antes em muitos fóruns, mas fomos treinados e conscientizados a resolver os assuntos frente a frente com colaboradores e clientes. E hoje isso praticamente ficou impossível, e pelo menos para a mim, a câmera do computador dá condições de fazê-lo, mas não o substitui, tornando as tarefas até de certo modo menos complexas, mais processuais e sistêmicas sob o ponto de vista de execução, porém complexas para os tomadores de decisão.
Para o gerente de pessoas, não poder olhar para a sua gente, seu comportamento, suas feições (boddy language), poder ser proativo, sentar para discutir de imediato situações de conflito e negócios, gera um risco que antes era controlável. Acreditar que os profissionais mais experientes e hands-on são autossuficientes e não precisam de apoio, é comum, mas é um erro. Eu mesmo cometi este erro “inconscientemente”, e quebrei a cara, afinal as pessoas estão vivendo num mundo diferente, que afeta o psicológico individual e coletivo e gera inseguranças e incertezas que devem ser combatidas.
Precisamos criar uma forma de gerir remotamente sem gerar o que chamamos comumente de micro gestão, que aliás incomoda muita gente até hoje. Não é este o objetivo, mas sim ter intensidade e constância. O objetivo aqui é :
(1) Não subestimar os mais experientes. Não achar que os Lone Wolves são autossuficientes e não precisam de apoio constante nesta fase. As coisas mudaram e os livros ajustados ao novo modelo de vida ainda estão fora da prateleira ou em lançamento. Não esquecer do aprendizado obtido, contudo não levar a ferro e fogo nos tempos atuais, adaptar-se é fundamental;
(2) Ter disciplina de contatos para coach, saber como andam as coisas, entender se existem dificuldades que podemos ajudar, dar alguns conselhos baseados em sua experiência e deixar que as pessoas reajam as acompanhando no processo. Estar junto não significa ser grudento e pegajoso, significa ser parceiro;
(3) Escrever tudo. Encontre uma maneira que satisfaça. Achar que trocar a visão continuada do escritório e sua memória fotográfica por conferências para trocar ideias é algo simples, é um erro. Cada um tem um modo diferente de encarar este novo modelo de trabalho, anote cada coisa discutida e transforme isto em tarefas que são medidas semanalmente. Isto exigirá do gestor uma organização muito grande e disciplina como dito no item (2).
Tenho lido que a maioria das pessoas troca de empresa por causa de maus gestores de pessoas. Verdade, acredito muito nisso. Imagina a situação de gestores pouco preparados para enfrentarem este novo mundo? Existem muitos treinamentos online como: www.udemy.com, www.coursera.com entre outras instituições sobre temas correlatos, caso não queira aulas presenciais pelo momento. Vale à pena conferir. (buscar: Management Skills, Emotional Intelligence, etc).
Finalmente, eu faço uso constantemente da leveza no tratar, da disciplina dos contatos para ouvir, do acompanhamento semanal (não mensal) e da empatia. Ser coach, psicoterapeuta, psicólogo, às vezes médico, não está no currículo dos gestores, por isso existem profissionais de mercado que podem auxiliar em paralelo. Tem sido cada vez mais comum indicarmos tratamentos complementares com apoio dos recursos humanos. É fundamental ter este apoio alternativo e complementar, sem subestimar o que o profissional está lhe contando. Gente, não é frescura, ajudar as pessoas a voltarem a prumo, se ajustarem e performarem como antes, exige dedicação, paciências e tolerância dos gestores. Muitos fantasmas são gerados subconscientemente pelas pessoas e precisamos ajuda-las a exterminar rapidamente pensamentos, que viram sentimentos e finalmente viram atitudes inadequadas que impactam a performance.